Agradecemos a participação, prestigiando assim a celebração para o centenário de Ruth Guimarães e agora o de seu marido, fotógrafo, que também estaria completando 100 anos, Zizinho Botelho.
Ficamos agradavelmente surpreendidos com a qualidade das fotografias e a escolha não foi fácil!
Os vencedores conjugaram: criatividade, originalidade, pertinência com o tema e técnica.
Abaixo, as fotos premiadas.
Fotografia é, em essência, a arte de colocar a luz nos lugares certos para obter o efeito estético desejado.
A pontuação foi de 0 a 5
1º lugar, com 4,96 pontos: – A foto de número 10, que a concorrente Caroline Rosa inscreveu, é um bom exemplo do aproveitamento da luz. O que, primeiro, chama a atenção na foto é uma explosão de luminosidade no céu, atrás da personagem central que aparece quase como silhueta.
Detendo-nos um pouco nos detalhes, vemos livros na região áurea da foto (o retângulo de Fibonacci, ou retângulo de ouro), mais à esquerda livro e caneta na perna da menina e, como se o olhar seguisse em espiral, o rosto da menina voltado para um lugar que pode ser o futuro. Para completar o quadro, atrás, o mato, e, à frente, o chão. Dois elementos perenes na obra de Ruth Guimarães, que tratou da natureza e da integração da pessoa com a sua terra.
A espiral: céu, livro, caneta na mão e o rosto. A composição justifica plenamente o que a autora escreveu para descrever a sua foto:
Baseado na fala de Ruth “Mulher, negra, pobre e caipira – eis as minhas credenciais”, num discurso na Bienal Nestlé de Literatura, em 1983
foi a base da fotografia, utilizando de elementos como chão de terra, sol e uma criança negra sentada com livros representando a infância de Ruth e o caminho grandioso que ela iria passar.
2º – lugar, com 4,85 pontos – A foto de número 15, que o concorrente Diego Pereira Martins Cardoso chamou de “A canoa, o rio e a ponte”, traz uma composição feliz dos três principais preceitos de uma boa fotografia: linha, massa e movimento. Diego, no momento da inscrição, justificou a sua foto com esta descrição: “O rio foi local onde a escritora Ruth Guimarães promovia campeonato de pescaria e também apreciava as corridas de canoa”.
Há na foto dois eixos – a ponte, horizontal, e a canoa, vertical. O registro da marola, na água, indica o movimento para a frente, vencendo a massa da água na direção de um ponto desejado, que se pode imaginar que seja o céu, como metáfora de futuro grandioso. Os arcos da ponte contribuem para dar movimento horizontal, na sua composição refletida que mistura céu e rio.
No piso da canoa, folhas, e nas paredes, cracas da idade. Detalhes que evocam a imanência do tempo nos artefatos utilizados pelas pessoas simples.
3º lugar, com 4,59 pontos – Esta foto, da concorrente Amanda Costa Paiva, traz um jogo de luz e sombras que lhe dá especial encanto. O ponto de convergência da luz conduz o olhar do observador para objetos que simbolizam o espírito e a ocupação de Ruth Guimarães. Materiais artesanais, os óculos e a toalhinha de bordas rendadas, tudo numa assimetria que revela aquele certo descaso pela ordem impecável que a literatura da época de Água Funda exigia. Mas há outro componente a guiar o movimento do olhar: as duas cadeiras, à direita e à esquerda, formam quase paredes, ou molduras, a conduzir para os elementos centrais.
A massa está presente na madeira firme dos móveis. O autor deu o título de “Broa de fubá”, mas o ponto revelador do retângulo de Fibonacci, que atrai a atenção, está, curiosamente, na dobra da toalhinha, que se lança como a registrar a indisciplina e a rejeição ao que é arrumado demais – uma referência do confronto entre Modernismo e Romantismo, muito presente na obra de Ruth Guimarães.