Hoje as pessoas não podem entender o trabalho de um fotógrafo, porque as técnicas são bem diferentes. É tudo muito simples na era digital, podemos ver o resultado imediatamente após o disparo. A máquina regula a cor, o foco, o brilho, a luz, por muito pouco não transforma a imagem. Aliás, transforma, sim, se usarmos os recursos que existem para isso.
O fotógrafo era um verdadeiro artesão, um trabalhador braçal. Precisava correr atrás da boa imagem. Estar no lugar certo, na hora exata, porque não se pode captar o momento passado. Ter bons reflexos, ficar atento eram ferramentas fundamentais, não era possível fazer várias fotos em poucos segundos. Se o filme acabava, seria necessário tirar o filme da máquina e colocar outro, o que levava alguns minutos – fim do evento. Poderíamos perder o armistício da guerra mundial!
Em Cachoeira Paulista tínhamos alguns bons nomes na fotografia: Roberto, Euzébio, Zizinho, Motoaki. Estes dois foram parceiros algumas vezes fotografando casórios. O Motoaki tirou fotos 3×4 da cidade inteira! Seu estúdio era pequeno, mas nele quase todo o mundo entrou. Na parede ao lado da porta de entrada ele expunha uma coleção de clientes e todos que passavam não resistiam, precisavam entrar e tentar identificar fulano, cicrano e beltrano. Aquele estudou comigo, esse mora na rua da Raia, aquele outro não sei quem é, mas tem uma cara engraçada. O Motoaki, atrás do balcão, tinha sempre um jeito sorridente, de quem estava se divertindo com as observações.
Ir ao Motoaki era quase como ir ao dentista: uma vez por ano. Era foto para a carteira de trabalho, para o passaporte, para a carteirinha do clube. E em dois cliques estava pronto. Sempre muitoisolícito e sorridente. Era um lugar onde eu me sentia em casa, quase dava para tirar os sapatos e ficar à vontade.
Ele se aposentou talvez devido à concorrência, talvez por não querer começar tudo de novo, se inteirando sobre as máquinas digitais, esse novo aparelho cheio de botões para controlar, talvez por ambos os motivos.
Eu só sei que esta impessoalidade toda de hoje me incomoda, sinto a falta dos retratos na parede e da cara boa do Motoaki me recepcionando na sua lojinha.
Nós precisamos que os negócios existam, mas é muito melhor quando eles vêm acompanhados de coração.