O homenageado da 3a edição do concurso de fotografia do INRG: Motoaki Yasumura

Hoje as pessoas não podem entender o trabalho de um fotógrafo, porque as técnicas são bem diferentes. É tudo muito simples na era digital, podemos ver o resultado imediatamente após o disparo. A máquina regula a cor, o foco, o brilho, a luz, por muito pouco não transforma a imagem. Aliás, transforma, sim, se usarmos os recursos que existem para isso.
O fotógrafo era um verdadeiro artesão, um trabalhador braçal. Precisava correr atrás da boa imagem. Estar no lugar certo, na hora exata, porque não se pode captar o momento passado. Ter bons reflexos, ficar atento eram ferramentas fundamentais, não era possível fazer várias fotos em poucos segundos. Se o filme acabava, seria necessário tirar o filme da máquina e colocar outro, o que levava alguns minutos – fim do evento. Poderíamos perder o armistício da guerra mundial!
Em Cachoeira Paulista tínhamos alguns bons nomes na fotografia: Roberto, Euzébio, Zizinho, Motoaki. Estes dois foram parceiros algumas vezes fotografando casórios. O Motoaki tirou fotos 3×4 da cidade inteira! Seu estúdio era pequeno, mas nele quase todo o mundo entrou. Na parede ao lado da porta de entrada ele expunha uma coleção de clientes e todos que passavam não resistiam, precisavam entrar e tentar identificar fulano, cicrano e beltrano. Aquele estudou comigo, esse mora na rua da Raia, aquele outro não sei quem é, mas tem uma cara engraçada. O Motoaki, atrás do balcão, tinha sempre um jeito sorridente, de quem estava se divertindo com as observações.
Ir ao Motoaki era quase como ir ao dentista: uma vez por ano. Era foto para a carteira de trabalho, para o passaporte, para a carteirinha do clube. E em dois cliques estava pronto. Sempre muitoisolícito e sorridente. Era um lugar onde eu me sentia em casa, quase dava para tirar os sapatos e ficar à vontade.
Ele se aposentou talvez devido à concorrência, talvez por não querer começar tudo de novo, se inteirando sobre as máquinas digitais, esse novo aparelho cheio de botões para controlar, talvez por ambos os motivos.

Fotógrafo Motoaki

O Fotógrafo Motoaki em seu estúdio – Foto: Pino Rossi

Eu só sei que esta impessoalidade toda de hoje me incomoda, sinto a falta dos retratos na parede e da cara boa do Motoaki me recepcionando na sua lojinha.
Nós precisamos que os negócios existam, mas é muito melhor quando eles vêm acompanhados de coração.

Ruth, a tradutora de clássicos

O historiador Dennys Silva-Reis, no seu canal de YouTube, faz um apanhado da produção de Ruth Guimarães, com destaque para a tradução direta do latim do “Asno de Ouro”, de Apuleio.
O programa faz parte da série Tradutrix, que aborda mulheres que trabalharam para divulgar a literatura de outros idiomas para o Brasil.

Para assistir, clique no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=bveaOHz4l4U

Dennys Silva-Reis - Instituto Ruth Guimarães

Historiador Dennys Silva-Reis

Professor Adjunto de Literatura de Expressão Francesa na Universidade Federal do Acre (UFAC), Doutor em Literatura (POSLIT/UnB) e Mestre em Estudos de Tradução (POSTRAD/UnB) pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Letras-Tradução e licenciado em Língua Francesa e respectivas literaturas pela mesma universidade (UnB). Atua, principalmente, nas áreas de Estudos Interartes, Estudos da Tradução (notadamente, Historiografia, Identidades e o par de línguas francês-português), Literatura Francófona (em particular, Literatura da Guiana Francesa e a obra do escritor Victor Hugo). Tem diversos textos (artigos, capítulos de livros, resenhas, entrevistas e traduções) publicados no Brasil e no exterior. Escreve no blog “Historiografia da Tradução no Brasil” (http://historiografiadatraducaobr.blogspot.com.br). É organizador das seguintes obras: junto com Sidney Barbosa, “Literatura e Outras Artes na América Latina” (2019); em co-organização com Kátia Hanna, a obra “A tradução de quadrinhos no Brasil : princípios, práticas e perspectivas” (2020), e o livro “Poéticas e políticas do feminino na literatura”, em co-autoria com Anselmo Alós e Cinara Ferreira. Participa como pesquisador dos grupos de pesquisa: Grupo de Estudos em Literatura e Estudos Comparados (UFAC), Grupo de Pesquisa em Poéticas Moderna e Contemporânea (GPPMC) (UNIR), LiterArtes (UNB) e Grupo de pesquisa A tradução como ferramenta de resistência e inclusão (UNB). Desde de 2013, faz parte da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e da Associação Brasileira de Pesquisadores em Tradução (ABRAPT). É professor credenciado do Mestrado Acadêmico em Estudos Literários (MEL/UNIR) e do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (PPGLEN/UFRJ). Informações coletadas do Lattes em 20/03/2023

ÁGUA FUNDA | Ruth Guimarães | FUVEST

A professora Isa Novas comenta no Youtube o livro “Água Funda”, de Ruth Guimarães, para estudantes que vão prestar o vestibular da Fuvest.

“Água funda” foi o primeiro romance de Ruth Guimarães, obra do Modernismo brasileiro, já confirmado para a lista de leitura obrigatória do vestibular da Fuvest (a partir de 2025). Livro: Água Funda Escritora: Ruth Guimarães (1920-2014) Editora: Editora 34 Prefácio: Antônio Cândido Escola literária: Modernismo Literatura brasileira.

https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/view/13223/9913

Sobre “A instabilidade na crítica do romance Água Funda, de Ruth Guimarães” artigo de Cecilia Furquim

Na Revista ABRALIC – Associação Brasileira de Literatura Comparada, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, edição de 2021, a doutoranda em Letras, pela USP, Cecília Silva Furquim Marinho publicou robusta análise da vida e obra de Ruth Guimarães, a partir da análise que denominou de “A instabilidade na crítica do romance Água Funda, de Ruth Guimarães”.

Cecília Silva Furquim Marinho - Instituto Ruth Guimarães

Cecília Silva Furquim Marinho

Histórias da literatura

Histórias da literatura

“Depois que minha pesquisa se iniciou, muitos avanços se deram na revalorização de Água Funda. Em 2018, uma terceira edição, muito bem cuidada, foi lançada pela Editora 34, mantendo o prefácio de Cândido, e inserindo no posfácio alguns outros enxertos da crítica, aqui analisada. Em 2019 foi defendida a primeira tese de doutorado sobre romancistas negras brasileiras, pela Universidade de São Paulo, na Área de Estudos Comparados. Ela tem em seu corpus um apanhado de oito romances de mulheres negras brasileiras, e Água Funda compõe o conteúdo de análise. Esse estudo foi, no mesmo ano, lançado também em formato de livro pela editora Malê e deu a sua pesquisadora, Fernanda Miranda, o Prêmio Capes de tese 2020, na área de Linguística e Literatura. Apesar da pandemia, esse ano, que é o centenário de nascimento da escritora, trouxe outras diversas conquistas para o romance e sua criadora. Além de dois livros póstumos, Contos Negros e Contos Índios e uma segunda edição de seu Os Filhos do Medo, estudo folclórico de 1950, muitos encontros virtuais acolheram estudiosos para debater a sua obra e diversos artigos sobre ela estamparam jornais eletrônicos ou físicos, como: Revista Galileu, Quatro Cinco Um, Revista Cult, BBC News Brasil, Folha Ilustrada, Folha Uol, entre outras.”

A íntegra do artigo está entre as páginas 102 e 125 do link  https://www.ufrgs.br/ppgletras/wp-content/uploads/2021/10/ABRALIC-Eixo-5-Volume-1-Historias-da-literatura-v.-1.pdf

A literatura de Ruth Guimarães nas escolas

Instituto Ruth Guimarães

Instituto Ruth Guimarães nas escolas

Desta vez foram os alunos da Escola Estadual Regina Pompeia Pinto, em Cachoeira Paulista, que trabalharam em sala de aula contos da escritora cachoeirense. As atividades de leitura e reescrita dos livros “Contos Negros” e “Água Funda” foram conduzidas pela professora Neide Arruda de Oliveira, Coordenadora de Agrupamento Escolar do estado de SP. Neide é também pós-doutoranda na PUC – SP e presidente da Academia de Letras de Lorena. A escola tem em sua biblioteca livros da nossa escritora, que ocupou a cadeira 22 da Academia Paulista de Letras, doados pelo Instituto Ruth Guimarães.

Diálogos visuais sobre Água Funda – Primeiro encontro (1/5)

Instituto Ruth Guimarães

Diálogos visuais sobre Água Funda – Ruth Guimarães

E no dia 25 de fevereiro de 2023, teve início no Instituto Ruth Guimarães – INRG , o grupo de estudos sobre o Romance Água Funda da autora que tanto admiro, Ruth Guimarães. Tive a oportunidade de ganhar um livro autografada pela filha da autora, Júnia Botelho e exemplares doados pela Mariana Bastos para a escola Domingos Paula . Estou relendo a obra, através do livro que ganhei da própria dona Ruth e autografado. Quanta honra!!! Conheci pessoas maravilhosas, inclusive o senhor Carlos, que é filho do Cleston, patrono da escola Emeief Cleston De Mello Paiva que mágico, é de uma extrema simpatia e cultura! Gratidão ao companheiro e padrinho do Rotary Club de Cruzeiro Mantiqueira, Celso Ricardo Paraguay pela carona e companhia, grande parceiro em minha trajetória. Foi uma manhã mágica! E ainda ficamos sabendo de um projeto top que em breve será divulgado pela Júnia e Mariah. Que privilégio, gratidão! Venham participar também! Ler é tudo de bom! Falar de literatura é encantador!

Texto: Renata Camargo

 

Lançamento da biografia de Ruth Guimarães na Academia Paulista de Letras – 9/02/2023

“A casa parece que sente falta de seus antigos habitantes. As árvores estão cheias de ervas-de-passarinho, as goiabas caem apodrecidas antes de amadurecer – como as carambolas. O coqueiro está morrendo. As rosas não vingam. O quintal está zangado, cadê a menina do dedo verde?
Ruth GuimarãesA menina escrevinhadeira, contadeira de histórias, cheia de imaginação; a negrinha de cabelo de trança, de boca grande e riso largo?
Observa tudo para o seu repertório de acontecências. A história passa reviravolteando, refazendo.” A casa contando Ruth e Ruth fazendo a história. Eram três autores e uma coautora, e todos deixaram de falar de si mesmos para falar da escritora que encanta, cuja vida era encantada, como dizia ter de ser. A Academia se vestiu elegantemente, como sempre, e recebeu-nos com muita pompa! Acolheu agradavelmente todos os amigos. Foi bonita a festa

CLUBE DE LEITURA CASA DA RUTH – DIÁLOGOS VISUAIS SOBRE ÁGUA FUNDA

Cinco encontros no quintal da casa da escritora Ruth Guimarães em Cachoeira Paulista – SP, sede do Instituto Ruth Guimarães, para debate, exposições e conversas sobre a obra “Água Funda”, que também terão transmissão. Todo o bate-papo será mediado pela filha da escritora: Júnia Botelho. Durante os encontros presenciais, os participantes são convidados a confeccionar um painel visual com Instituto Ruth Guimarãeselementos que representem a obra. O último encontro é marcado pela festa de celebração do aniversário da escritora, onde os painéis serão expostos.

60 vagas com inscrição prévia | Gratuito
Local: Instituto Ruth Guimarães

Cada participante ganhará um exemplar da obra “Água Funda” (Editora 34) e um pôster da escritora que serão retirados no primeiro dia de encontro.

Link para inscrição: http://bit.ly/40s1Op4

https://www.sympla.com.br/evento/clube-de-leitura-casa-da-ruth-dialogos-visuais-sobre-agua-funda/1864664?_gl=1*ebz8j3*_ga*MTkwNzQ0ODMxNS4xNjU5NzIwMzQ4*_ga_KXH10SQTZF*MTY3NTE3Njc3MS4xOS4xLjE2NzUxNzc0MjUuMC4wLjA

Os acontecimentos de Ruth Guimarães (1920-2014): alcances e limites para uma intelectual negra em São Paulo

Mário A M Silva - Sociólogo e Professor da Unicamp

Mário A M Silva – Sociólogo e Professor da Unicamp

Mário A M Silva, autor deste artigo sobre Ruth Guimarães, é sociólogo e professor na Unicamp. Seus temas de pesquisa envolvem temas como os intelectuais negros, o associativismo, o pensamento social brasileiro e a circulação internacional de ideias e pessoas.
É autor de obras teóricas e de obras literárias. Colaborou com contos para o jornal Irohin e para a Revista Lavoura.
Várias de suas obras receberam prêmios ou foram finalistas em concursos organizados por instituições como Prêmio Sesc de Literatura e Prêmio Jabuti. É autor da Editora Kapulana.

https://www.scielo.br/j/cpa/a/xKKMB7mF3sKvD4xKkYMmChF/?lang=pt#

 

Ruth Guimarães vive!

Regina Helena Paiva Ramos

Regina Helena Paiva Ramos

Acabo de ler “Memórias da Casa Velha – Biografia e legado de Ruth Guimarães” que Júnia e Joaquim Maria Botelho escreveram, juntos, evocando a vida de sua mãe, o tempo dela, os escritos dela, as cartas que escreveu e recebeu, as tragédias que viveu. Uma narrativa interessante onde os dados biográficos se entremeiam a críticas, cartas, notícias, confidências e memórias da vida que viveram juntos.
Ruth Guimarães (1920-2014) é uma escritora (propositalmente não estou usando o verbo no passado) do nível de uma Lygia Fagundes Telles e de um Guimarães Rosa. Não estou exagerando e nem sou eu, apenas, a dizer isso. Foram os críticos de literatura quando do lançamento de “Água Funda”, seu romance de estreia, em 1946. Na mesma época, Amadeu de Queiroz, o carimbamba (*) da Drogaria Baruel – onde se reuniam os escritores da época – comparou “Água Funda” a “Macunaíma”. Sem concordar plenamente com isso Antônio Cândido escreveu no Diário de São Paulo, (18/071946) longa crítica em que examina os dois livros, elogiando muito a escritora. Foi também prefaciador no relançamento do livro, mais de meio século depois.
Respeitada, admirada, louvada Ruth Guimarães! Por gente gabaritada, por leitores, escritores e por uma jovem repórter que começava na profissão – esta que vos fala – e que na década de 50 escreveu carta a Ruth Guimarães falando de sua admiração por ela. (E Ruth respondeu!)
Só para uma rápida ideia da amizade e do respeito que outros escritores tinham por essa companheira de letras, vejam a dedicatória que Guimarães Rosa escreveu para Ruth: “À Ruth Guimarães, parenta minha e uma das pessoas mais simpáticas que encontrei na vida; e que escreve como uma fada escreveria – com o grato apreço e a amizade de Guimarães Rosa.”
Ruth foi a primeira escritora negra a ter projeção nacional.
E então por quais motivos essa escritora fantástica não é conhecida e reconhecida como seus pares – Lygia, Rosa, Mário de Andrade?
Por ser “negra, pobre e caipira”, digo quase repetindo Ruth, num artigo em que falava da situação do negro e dizia “negra, escritora, mulher e caipira. Eis aí minhas credenciais”.
Mas a mocinha descendente de portugueses, negros e índios – essência do povo brasileiro – sabia das dificuldades e foi à luta. Tendo perdido os pais muito jovem, viveu com os avós numa chácara em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, tomou conta dos irmãos memores e depois partiu para São Paulo, empreguinho modesto de sol a sol, mas a menina de 18 anos arranjava tempo para ler, escrever, ler mais, escrever muito e sempre. Casada com o primo Zizinho, o grande amor de sua vida, tiveram nove filhos e Ruth, já escritora, cuidava dos filhos, do marido que ficou tuberculoso, dos empregos e escrevia e escrevia e lia e escrevia mais.
Professora, tradutora (de francês, do italiano e do latim), folclorista, pesquisadora, jornalista (foi repórter de “Quatro Rodas” e da “Revista da Semana”), romancista, contista. Cursou Letras na USP assim que a vida lhe deu uma folga. Arranjou tempo para cursar a Escola de Arte Dramática à noite. Foi eleita para a Academia Paulista de Letras, primeira mulher negra a integrar essa entidade. Com tudo isso ainda fazia horta na chácara, regava plantas, dava amor aos filhos e ao marido, o apaixonado Zizinho, fotógrafo que participou com ela de várias reportagens.
Não era apenas escritora de vários livros. Ruth prezava a integridade, ensinava valores aos filhos, cultivava amigos e, como diz seu filho Joaquim, continuava “caipira orgulhosa de suas raízes”.
Talento imenso, muito amor, sucesso como escritora, admirada por todos, mas a vida não lhe foi sempre risonha e franca. Viu morrer sua primogênita. Dos seus nove filhos, três eram excepcionais e ela os viu partir, um a um. Cuidou do marido tuberculoso e foi o sustento da casa. Teve sérios problemas de saúde e ficou internada durante meses. A cada tragédia ela se erguia novamente e então era a volta ao trabalho, às traduções, às leituras, à escrita.
“Minha arma é minha máquina de escrever”, disse, um dia. Mulher poderosa, armada para o bem.
Como gostei desse livro em que Júnia e Joaquim falam da mãe escritora.
E que escritora!
Quem ainda não conhece Ruth Guimarães deve correr atrás dos livros dela. Não é possível apreciar literatura e não conhecer Ruth Guimarães.
(*) Carimbamba é como se autodenominava o dono da Gurgel, por não ser formado em farmácia. Significado: curandeiro.

Regina Helena Paiva Ramos