Obras de Ruth em escola do interior de Roraima

Crianças estudam obras de Ruth Guimarães para aprender sobre antirracismo

A professora Maria Augusta Simões Maduro, que vive em Ribeirão Preto, é madrinha de um projeto chamado “Literatura afro-indígena como instrumento de educação antirracista”.
Ela nos envia fotos de atividade realizada na escola Tia Ercília, na cidade de Cantá, interior do estado de Roraima. As crianças leram e trabalharam quatro livros de Ruth Guimarães: “Contos Negros”, “Contos Índios”, “Histórias de onça” e “Histórias de Jabuti”.
É a obra de Ruth Guimarães alcançando as crianças da fronteira com a Venezuela.

 

Instituto Ruth Guimarães representado na Manifest Culturarte

Você chega ao 3º andar de um prédio do governo, seja subindo as escadas ou pegando o elevador para chegar lá. Você conhece as pessoas lá e não diz para si mesmo: eles moram aqui, é fácil para eles, não precisavam subir escadas. Você supõe que eles também partiram do andar térreo para chegar a este mesmo andar. E, no entanto, quando você se depara com um artista que faz algo bonito, a primeira coisa que você diz para si mesmo é: ah sim, mas ele tem talento! Como se não precisasse trabalhar, como se não precisasse subir escadas para chegar ao 3º andar, a esse nível de especialização em sua arte. Isto simplesmente não é verdade! Salvo uma minoria, a maioria dos artistas tem que trabalhar, perseverar, desenvolver sua paixão para chegar onde está hoje. Mesmo que um artista chegue ao 3º andar mais rápido que você, ele ainda terá que trabalhar, assim como você, para subir os andares superiores.

A arte, o artesanato, os serviços manuais, a marcenaria são individuais, são feitos um a um. Para você! Ninguém terá o mesmo, da mesma forma, mesmo que tenham sido feitos na mesma forma.
Valorize os artistas e os artesãos de sua cidade, de sua região.
A Manifest Culturarte foi idealizado a partir de um projeto desenvolvido na Fatec Cruzeiro.
A intenção deste projeto é valorizar nossos artistas.
O evento será realizado no dia 29 de maio a partir das 19 horas na Etec Professor Marcos Uchoas dos Santos Penchel, Cachoeira Paulista.

Ruth Guimarães

Água Funda é tema de dissertação de mestrado em Universidade de MG

Sérgio Portilho acaba de defender dissertação de mestrado, na Universidade de Viçosa, Minas Gerais, com o tema “Reflexões sobre o romance moderno Água Funda (1946), de Ruth Guimarães.

Ruth Guimarães

Sérgio Portilho acaba de defender dissertação de mestrado, na Universidade de Viçosa, Minas Gerais, com o tema “Reflexões sobre o romance moderno Água Funda (1946), de Ruth Guimarães.

O presente trabalho tem por objetivo a análise da obra Água Funda (1946), de Ruth Guimarães,
único romance publicado pela escritora, com o objetivo de analisar sua construção e o estudo de sua recepção. A escritora Ruth Guimarães foi uma das primeiras mulheres negras a ocupar espaço no campo da literatura brasileira. O romance Água Funda recebeu a atenção de importantes críticos quando de sua estreia. Na presente pesquisa, empreendemos um estudo cuidadoso sobre a recepção da obra, atualmente, dividida em três momentos, de acordo com as edições: da Editora Livraria do Globo, em 1946; da editora Nova Fronteira, em 2003, e da Editora
34, em 2018. O diálogo dessa recepção com a leitura crítica da obra possibilitou-nos perceber
o romance de Ruth Guimarães como um exemplar do moderno romance brasileiro, assim como
também evidenciou a necessidade de mais estudos acadêmicos em torno da produção dessa
escritora.

Alunos da Faculdade Canção Nova visitam Instituto Ruth Guimarães

Melody, Maryana e João Pedro, alunos do departamento de Rádio e TV da Faculdade Canção Nova vieram fazer um trabalho no Instituto Ruth Guimarães. Conheceram um pouco de Ruth em algumas aulas e se apaixonaram! Baseados em suas pesquisas, trouxeram um questionário, tiraram muitas fotos, gravaram vídeos, erraram, recomeçaram, aprendendo na prática. Encantadora, foi o adjetivo que Melody usou para qualificar Ruth Guimarães. É o que o Instituto procura fazer: encantar. A sua escola já veio ao instituto? Ainda não? É só agendar!

Ruth Guimarães

Alunos da Faculdade Canção Nova visitando o Instituto Ruth Guimarães

Francisco Sodero – Historiador

Francisco Sodero Toledo é graduado em História pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1967), graduação em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1972), graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia de Cruzeiro (1976), e, mestrado em Mestrado em Educação pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (1998). Membro fundador do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV) e da Academia de Letras de Lorena e conselheiro do Instituto Ruth Guimarães
Amante da história e da cultura, tornou-se um dos principais expoentes de uma geração que faz questão de conhecer, preservar, divulgar e, principalmente, elaborar um saber que expressasse uma identidade regional para o Vale do Paraíba. Sempre lutou pela valorização e preservação dos patrimônios materiais e imateriais do Vale do Paraíba, militou no campo político em prol da redemocratização do país, lançou campanhas que buscaram garantir ao Vale do Paraíba um merecido lugar de destaque na história nacional. Fonte: http://diegoamaro.com/entrevista/em-breve-francisco-sodero-historiador/

Ruth Guimarães

As escolas no instituto

A EEPEI “Barão da Bocaina”, de Areias, fez uma caravana com vinte e nove alunos, mais os professores Alício e João Batista, para uma conversa no Instituto Ruth Guimarães sobre Água Funda, Ruth Guimarães, vestibulares, regada a capuccino e bolinho de chuva. O casarão onde fica a Barão é conhecida historicamente como residência do Sr. Gabriel da Silva Leme que ocupou o cargo de Presidente de Intendência Municipal no ano de 1842. O prédio funcionou como hospital, cinema e correio. Em 1911, foi doado para a atividade das Escolas de Areias, passando a se chamar “Barão da Bocaina”.
Alunos interessados, receptivos, que fizeram muitas perguntas, interagiram, turminha boa! Até contaram umas histórias de assombração, para ilustrar o que ouviram sobre o livro Os filhos do Medo. Os professores estão de parabéns. No final da conversa houve um sorteio de livros, entre eles: Água Funda, Histórias da Onça e um Ruth Guimarães e o pioneirismo de Água Funda. Um desses alunos escreve suas histórias, mas não quis falar em voz alta, com medo de ser “zoado”. Ainda temos medo de revelar nossas aptidões, de mostrar nossos talentos, mas aqui no Instituto Ruth Guimarães vocês encontram oficinas de leitura, de redação, conhecem outras pessoas que fazem o mesmo que você. A sua escola ainda não visitou o Instituto? Então agende! Esperamos vocês!

Ruth Guimarães

Alunos da EEPEI “Barão da Bocaina”, de Areias, visitam o Instituto Ruth Guimarães

Júnia Botelho recebe prêmio Monteiro Lobato

Cumprimento as autoridades aqui presentes na pessoa de Ildebrando Pereira da Silva que fez a gentileza de me anunciar este prêmio.

Na noite de hoje agradeço a presença dos amigos e familiares que me apoiam nos meus projetos nem sempre fáceis de executar, principalmente meu irmão Marcos, aqui presente, Joaquim Maria, que está nos representando em outro evento, meu irmão Olavo que partiu fora do combinado, como dizia Rolando Boldrin, que abraçaram junto comigo a realização do Instituto Ruth Guimarães. Sobra sempre um pouco de trabalho para Letícia, minha sobrinha, e para Maria, minha filha. Agradeço também ao Sérgio Barreiros que concebeu um site muito bonito e que graças a ele estamos na primeira página do Google sem precisar ter investido financeiramente, apenas com boas matérias e belas fotos.

Ruth Guimarães

Júnia Botelho recebe prêmio Monteiro Lobato

A Alarte enxergou com olhos generosos o meu trabalho como secretária da Cultura de Cachoeira Paulista. Viu também meu empenho em ajudar artistas cachoeirenses a conseguir elaborar projetos para conseguir recursos da Lei Aldyr Blanc. E certamente tomou conhecimento do meu voluntariado, ensinando francês para estudantes carentes. O que faço não é nada demais, na verdade. Devolvo o que me foi dado. Quando secretária da cultura de Cachoeira Paulista o lema era: “vamos ao centro cultural? Fazer o que? Sei lá! Mas lá sempre tem alguma coisa.” Ter alguma coisa para os que não têm nada. Sessão de cinema, bate-papo, tocar o piano que está lá, porque é um centro cultural não somente uma biblioteca. Dava aulas gratuitas de canto e de francês, porque eu já estava sendo paga para oferecer cultura. Consegui aulas de pintura com o artista Chisnandes, que também só queria ajudar os jovens. Quando já não mais estava secretaria, me ofereci para ajudar na lei Aldir Blanc, fazendo parte da comissão de cultura, liguei para as pessoas avisando do prazo, liguei para explicar o que era um projeto, fazia fila na porta de minha casa para os que não entendiam e me pediam ajuda. Porque temos tantos talentos e tantas carências! O meu lema pessoal é “construa, e eles virão”, do filme Campo dos Sonhos, com Kevin Costner. As pessoas têm fome de arte, ofereçamos música clássica, aulas de pintura, ofereçamos arte, e elas virão.
Além disso tudo, temos um lugar lindo deixado por Ruth Guimarães e Botelho Netto, que administramos e que é um lugar onde os artistas têm um espaço para se apresentar. Venham artistas, a casa é de vocês! Continuamos o trabalho de agentes culturais começado por nossos pais e esperamos que não pare em nós. Recebemos estudantes e pesquisadores que estão aprendendo a conhecer esse material primoroso que nos foi legado, tanto literário quanto fotográfico.

Convidamos todos vocês a participarem de nossos eventos, temos a terceira edição do concurso fotográfico, cujas inscrições vão até dia 22 de maio, temos os encontros mensais sobre Água Funda com o tema Diálogos Visuais, os trimestrais com a literaturaterapia, usando em sua maioria os Contos de Cidadezinha, temos dia 05 de maio um encontro em volta da fogueira para falar de Filhos do Medo e contarmos histórias de assombração, à meia noite de uma sexta-feira de lua cheia. Tudo isso e muito mais vocês ficam informados pelo site https://institutoruthguimaraes.org.br/site/.
Temos ainda muita organização a ser feita, tanto do espaço físico quanto do material que precisa ser digitado e digitalizado. Aqueles que quiserem se voluntariar, entrem em contato pelo site também, ou pelo instagram e pelo facebook. Agradecemos este reconhecimento de uma cidade vizinha, que faz a divulgação de nosso trabalho, e todo apoio é muito bem vindo. A cultura precisa ser feita em nossos quintais, em nossas casas, em nossos bairros, nas ruas, nas praças, para criarmos tradições. Cantar, dançar, fazer poemas e declamá-los, fotografar, pintar, bordar, tricotar, dramatizar, a arte como um todo nos faz viver. Que a Alarte viva por muitas décadas e ajude a arte a sobreviver. Vamos seguindo a cultura de Ruth e Zizinho. Porque é preciso continuar a história desse casal, dois talentos que não podem morrer, e também é preciso continuar a fazer cultura, independentemente de órgãos governamentais e de crises mundiais.”

Fonte: Jornal Vale Vivo

Universidade gaúcha escolhe obra de Ruth Guimarães para o exame vestibular

O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, divulgou a lista completa dos livros que os vestibulando deverão estudar para o exame de 2024 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Veja a lista completa das leituras obrigatórias:
Kaká Werá - A Terra de Mil Povos
Ruth Guimarães - Água Funda
Gabriel García Márquez - Cem Anos de Solidão
Angélica Freitas - Um Útero é do Tamanho de um Punho
Aristófanes - Lisístrata
Machado de Assis - Várias Histórias
Júlia Lopes de Almeida - A Falência
Sophia de Mello Breyner Andresen - Coral e Outros Poemas
Isabela Figueiredo - Caderno de Memórias Coloniais
Chico Buarque - Construção (álbum)
Conceição Evaristo - Ponciá Vicêncio
Amílcar Bettega - Deixa o Quarto Como Está

Água Funda - Ruth Guimarães

Água Funda - Ruth Guimarães

Café da manhã e bate-papo com o escritor Joaquim Maria Botelho

Joaquim Maria Botelho vai conversar sobre a biografia de Ruth Guimarães que acaba de ser lançada por ele e Júnia, seus filhos, pela Nocelli Editora, com apoio do ProAc. O trabalho trata da formação intelectual da escritora, sua vida, obras e legado literário. O autor fará uma roda de conversa sobre sua profícua produção literária, ativismo cultural e social, diversidade e apagamento de sua história, obliterados pela preferência aos icônicos autores brancos e de classe social mais elevada.
Ruth Guimarães não acreditava, propriamente, em Deus. Acreditava num deus, que podia ser chamado de fraternidade, solidariedade ou amor. Conhecia várias religiões, estudou-lhes a filosofia, apreciava as belezas de cada uma e de cada uma quis os ensinamentos. Cresceu ouvindo crendices, lendas, superstições. Separou pelo estudo as que a ciência explica, manteve o que lhe foi introjetado pela ancestralidade, nominadamente Honória Joaquina, sua avó e fada madrinha. Misturou no cadinho de conhecimento a sabedoria camponesa do avô português. E leu tudo o que lhe caía à mão, desde os cinco anos de idade. Conhecia a Bíblia, citava os livros apesar de, como Eça de Queiroz, não crer como o católico supostamente deve crer. A Bíblia era, para ela, um relicário de sabedoria.
Os autores da biografia distribuíram o livro em partes que se referem aos livros da Bíblia, apenas como elemento de catalogação, para tornar didática esta história protagonizada por uma mulher sensível, inteligente, justa, sofredora e feliz. Lutou com as armas que pôde usar: o livro, o ensino, um extraordinário senso de justiça e uma fé inabalável nos seus deveres para com o próximo.

Trecho da orelha do livro “Histórias da casa velha – biografia intelectual de Ruth Guimarães”:

Joaquim Maria Botelho

Joaquim Maria Botelho

Ela foi mestra, mãe, amiga, esposa, ativista cultural, intelectual reconhecida, caipira orgulhosa de suas raízes e do seu papel no mundo. Viveu todos os momentos com intensidade, às vezes serena e consentida, às vezes irada e contrafeita. Não recusou jamais uma briga. Atuou em política cultural, insurgindo-se contra políticos partidários desonestos, contra administradores públicos autoritários e injustos – de modo geral, contra a injustiça contra a gente pobre. Foi pobre. Escolheu o desapego. Quis ser como sua gente das cidadezinhas, vilarejos e roças, participar de seus mistérios, compreendê-los e carregá-los dentro do seu repertório de conhecimento. Ensinou artesanato a mulheres pobres que não podiam se sustentar e por isso aturavam maridos bêbados e violentos. Ensinou ofícios a meninos e meninas de rua e modificou para melhor muitos destinos. Escreveu livros para ensinar pessoas a gostar de ler para assim compreender o mundo.
Teve nove filhos, depois de cuidar de três irmãos menores. Educou a todos com o apoio de um homem amoroso, apaixonado e amigo – seu primo José. Formaram a mais bela parceria que conhecemos. Produziram reportagens, artigos, fotografias, livros, produziram filhos que se amaram e se amam.
No momento que este livro é apresentado para publicação, com apoio do Proac – Programa de Ação Cultural do estado de São Paulo, restamos três irmãos para contar a história desta mulher especial: Joaquim Maria, Marcos e Júnia. Aqui estão os relatos que ouvimos, os diálogos que testemunhamos, as pesquisas que realizamos. É uma contribuição para manter viva a obra, o legado intelectual e social e o caráter de excepcional qualidade humana dessa mulher que nos deu a vida, nos deu valores, ensinamentos e livros.
Ave, nossa mãe, Ruth Guimarães, heroína da vida real.

Joaquim Maria Botelho e Júnia Botelho 2023

O centenário de Ruth Guimarães reaviva obra no limite entre erudito e popular

Escritora de ‘Água Funda’ foi a primeira negra a ganhar projeção nacional, com o romance publicado em 1946

Reportagem de Tayguara Ribeiro

(Folha de S. Paulo, 13.nov.2020)

Era um terreno com muitas árvores, perto do rio Paraíba e perto do trilho do trem. Ali cresceu e ganhou corpo uma paixão pela leitura que levaria Ruth Guimarães a transpor os limites da pequena cidade de Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo. Naquela casa onde nasceu, cresceria uma imaginação que, transposta para o papel, ganharia vida em mais de 51 livros entre ensaios folclóricos, romances, contos, traduções e crônicas.

A mescla entre erudição e cultura popular que Ruth Guimarães imprimiu em boa parte de sua obra e o pioneirismo de ter sido uma das primeiras mulheres negras a ter um romance publicado no Brasil mostram a importância de revisitar sua produção neste 2020, que marca seu centenário.

Água Funda - Ruth Guimarães

Água Funda – Ruth Guimarães

Guimarães foi a primeira escritora negra brasileira a ganhar projeção nacional. O romance “Água Funda”, publicado em 1946, rompeu barreiras não só para ela, mas também para gerações de outros escritores negros que sentiram em seu trabalho representatividade cultural e incentivo para ousar buscar um espaço. Ela morreu em 21 de maio de 2014, aos 93 anos.

“A Ruth é conhecida pelo romance ‘Água Funda’, essa é sua grande obra”, diz o escritor Tom Farias, autor do livro “Carolina: Uma Biografia”, sobre a escritora Carolina Maria de Jesus, e curador da FlinkSampa, festa de literatura e cultura negra.

“Penso que a área dela era realmente a ficção e ‘Água Funda’ é sua obra máxima”, diz. Farias lembra, no entanto, que existe muito material sobre Ruth Guimarães ainda a ser explorado –”o universo dela é muito grande”.

Em 2008, a escritora assumiu uma cadeira na Academia Paulista de Letras. Guimarães era formada em filosofia pela Universidade de São Paulo e tradutora do latim, tendo vertido ao português “O Asno de Ouro”, único romance latino da Antiguidade a sobreviver até os nossos dias.

Além de “Água Funda”, outra marcante criação da escritora foi “Calidoscópio – A Saga de Pedro Malazarte”, fruto de uma pesquisa que reuniu centenas de histórias sobre esse peculiar personagem do imaginário brasileiro.

Guimarães foi cronista deste jornal entre 1961 e 1969 e entrevistou, no começo de 1969, Érico Veríssimo.

Para celebrar seu centenário, a Faro Editoral publicou neste ano “Contos Negros” e “Contos Índios”, dois livros inéditos da autora. Outros dois devem ser lançados no primeiro semestre do ano que vem, “Contos da Terra e do Céu” e “Contos de Encantamento”.

Os livros tratam de espiritualidade e misticismo e são parte do trabalho de campo em que Guimarães pesquisou, no Vale do Paraíba, no sul de Minas Gerais e nas cidades paulistas de Bragança Paulista, Atibaia, Suzano e Mogi das Cruzes, histórias afro-brasileiras e indígenas passadas de geração em geração oralmente.

Outra homenagem ocorre na oitava edição da FlinkSampa, nos dias 19 e 20 de novembro, que, organizada pela Universidade Zumbi dos Palmares e pela ONG Afrobras, lança a edição comemorativa de 70 anos do livro “Os Filhos do Medo”, em que a escritora aborda as superstições em torno do diabo que rondam boa parte do imaginário popular.

Mesmo que “Água Funda” seja o livro mais famoso e lembrado da autora, seu filho, Joaquim Maria Botelho, de 65 anos, conta que a mãe tinha um carinho especial por “Contos de Cidadezinha”, publicado em 1996. “Ela gostava e eu também. E acredito que foi [sua obra] mais madura”, diz o jornalista e também escritor.

“Escrevo para que, afinal? Para obter honra e glória? Para poder dizer tudo o que penso?”, questiona a autora em um dos trechos do livro. “Ah! Eu conto histórias para quem nada exige e para quem nada tem. Para aqueles que conheço: os ingênuos, os pobres, os ignaros, sem erudição nem filosofias. Sou um deles. Participo do seu mistério. Essa é a única humanidade disponível para mim.”

Mãe de nove filhos, Guimarães começou a carreira jovem e enfrentou muitos obstáculos. “Acho que ela não tinha a dimensão da importância que poderia ter”, diz Botelho sobre o início de carreira da escritora e de sua percepção, naquele momento, sobre a representatividade de ser a primeira mulher negra a publicar um livro de grande repercussão no Brasil, poucas décadas após o fim da escravidão.

“Claro que ela sabia que a vida dela enquanto negra era muito difícil. Ela trabalhou em empregos modestos, lavou prato. Alguns patrões, depois de um tempo, descobriram que ela tinha leitura, conhecimentos, e ela acabou virando secretária do Laboratórios Torres [empresa farmacêutica]”, conta Botelho sobre a chegada de Ruth Guimarães a São Paulo. “Ela era muito interessada por literatura, desde jovem.”

Ela chegou à capital paulista aos 17 anos, logo depois da morte da mãe. Sozinha na cidade, conseguiu um emprego, alugou uma casa, na Vila Formosa, bairro da zona leste, e trouxe os irmãos.

Da infância, dos ensinamentos dos avós e das andanças pelo interior vieram as inspirações para contar as histórias, tradições e sabedorias populares. Na juventude em São Paulo, por meio de colegas e dos trabalhos que exerceu na capital paulista, surgiram amizades com pessoas ligadas à literatura.

Mário de Andrade deu boas orientações a ela quando a autora mostrou seus manuscritos. Os dois se conheceram no começo dos anos 1940, depois que Guimarães enviou uma carta ao autor de “Macunaíma”. Ela mostrou a ele as pesquisas que tinha feito e que resultaram no livro “Os Filhos do Medo”.

Da convivência com nomes como Jorge Amado e Péricles Eugênio da Silva Ramos surge admirações mútuas. Quando, aos 26 anos, ela publica “Água Funda”, Antônio Cândido faz críticas favoráveis ao livro. Os dois se tornariam amigos a partir dali.

Segundo Tom Farias, a obra da Ruth Guimarães pode ser dividida em três ou quatro partes. A parte da ficção, com romance e contos, os estudos folclóricos brasileiros, as crônicas em jornais –a escritora atuou em jornais da capital paulista, do interior e até de outros estados– e a poesia —”ela é precoce, começou a publicar com dez ou 13 anos poemas em jornais de Cachoeira Paulista”.

Fernanda Rodrigues de Miranda diz que a pluralidade foi a marca da carreira de Guimarães. “Ela tem uma produção intelectual muito variada, que passa por vários gêneros discursivos, como conto, crônica, romance, tradução. Mas ela era também uma grande pesquisadora, muito interessada nos universos culturais e simbólicos da região do Vale do Paraíba”, diz a doutora em letras pela USP. “Ela recolheu desses universos algumas preciosidades, que depois se tornaram matéria-prima para sua escrita literária.”

Segundo Miranda, Guimarães trabalhava com os materiais que “aprendemos a entender como modernistas, a fala e a paisagem do Brasil profundo, a estética menos formalista e mais espontânea, a presença de lendas, contos orais e o universo mágico da cultura caipira”. Porém, lamenta a pesquisadora, a escritora ficou à margem dos processos de canonização modernista.

Botelho lembra que problemas familiares dificultaram, em alguma medida, a presença da escritora nos círculos literários. “O meu pai ficou doente, com tuberculose, e ela precisou cuidar dos filhos. Depois de se afastar, retomar fica difícil”, avalia ele.

“O fato de ser negra, pobre, mulher e vinda do interior jogou contra ela na carreira”, diz o filho.

Segundo Miranda, Guimarães é uma autora centenária que ainda precisa ser descoberta. “Ela não está nas escolas, por exemplo, e não aparece nos cursos de letras ainda”, diz. “Ela é uma grande autora, seu romance traz uma elaboração estética para a experiência de ser brasileiro e nos permite refletir sobre os nossos entraves, ainda herdeiros da velha síntese casa grande versus senzala.”

De acordo com a pesquisadora, no Brasil, o sistema literário se sustenta no silenciamento sistêmico da autoria negra. Isso se aplicaria, segundo ela, a todas as instâncias do texto, desde a pesquisa, no corpo docente das universidades, nos livros didáticos, nas traduções, edições e reedições, incluindo o jornalismo e os prêmios literários. “Em todas essas instâncias a presença negra é ausente ou minoritária”, diz Miranda.

Segundo Miranda, é fundamental revisitar escritoras como Ruth Gumarães para ajudar a criar novas narrativas e para abrir espaço para novas vozes. Botelho diz que a força da produção de sua mãe já conseguiu impulsionar outros trabalhos. “Eu não tenho dúvidas de que ela foi inspiradora para muita gente.”

Link da matéria: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/11/centenario-da-autora-ruth-guimaraes-reaviva-obra-no-limite-entre-erudito-e-popular.shtml