Aconteceu no Instituto Ruth Guimarães!

Galeria dos vencedores do concurso de fotografia Zizinho Botelho 3a edição

Nesta nossa terceira edição do concurso de fotografia do Instituto Ruth Guimarães ficamos agradavelmente surpresos. Os candidatos entraram realmente no espírito do concurso e foram muito criativos. A foto do Mauro Adriano Maia, 1o lugar da categoria adulto, foi feita a partir de um celular. Ou seja, não é necessário ter um equipamento espetacular, mas apenas uma boa ferramenta e estar no lugar certo, na hora certa, armado com um bom olhar. As fotos dos vencedores ficarão expostas até o início do mês no museu Dr. Costa Jr., no parque ecológico, apoio de nosso amigo Claudio Fernandes.

Ruth Guimarães nas escolas – primeira semana de junho na Escola Luiz Menezes

Júnia Botelho fala sobre Ruth Guimarães

Júnia Botelho fala sobre Ruth Guimarães na escola Luiz Menezes em Guaratinguetá

A Escola Luiz Menezes, localizada na Vila Angelina, em Guaratinguetá-SP, está oferecendo para seus alunos projetos diferenciados, reuniões periódicas, palestras com profissionais que estão fazendo parte da rotina da escola. Neste início de junho trouxe a história de Ruth Guimarães, a escritora aniversariante, regionalista, que fala com os seus conterrâneos do Vale do Paraíba como a um dos seus familiares sentado em sua mesa tomando um café da tarde. A conversa foi com a filha da escritora, Júnia Botelho, no pátio grande e espaçoso, embaixo de uma árvore bonita e num dia bem agradável e ensolarado. A equipe estava toda reunida ouvindo e fazendo perguntas, com a diretora /professora Suzana Benini, a coordenadora/ professora Marilena Floriano e o professor/youtuber André Felipe. O convite veio do professor André Felipe, que é um admirador de Ruth Guimarães e quis apresentar nossa escritora para os alunos e professores de nossa região, que estão aprendendo a gostar e apreciar Ruth. Sua escola ainda não recebeu os livros de Ruth? Ainda não ouviu falar de Ruth? Então agende sua visita ao instituto, ou faça como a escola Luiz Menezes e traga a equipe do Instituto Ruth Guimarães para uma palestra.

Artigo no jornal da UFRGS destaca obra de Ruth Guimarães

A literatura orgulhosamente negra e caipira da escritora – Por Mírian Barradas

“E Joca é esse trapo que anda aí. Virou andante. Um dia está aqui, outro dia não se sabe dele. Aquele sossega só com a morte. Assim mesmo, não sei. Até em Curiango a praga acertou de ricochete. Enquanto o pai foi vivo, foi um cabresto para ela, mas depois que morreu… Não pode contar com o marido e não é mulher pra ficar sozinha. É moça demais e é bonita demais. Tudo no diacho dessa mulher faz a gente lembrar de correnteza. Tem o andar bamboleado e macio de veio d’água. Tem uma risada de passarinho nascido perto da cachoeira. E o lustro daqueles olhos pretos é ver lustro de jabuticaba bem madura, molhada de chuva”

Trecho de Água Funda

“É um romance, mas escrito como se fosse prosa fiada, como se fosse narrativa caprichosa que vai indo e vindo ao sabor da memória, ao jeito dos contadores de casos.” É dessa forma que Antonio Candido resume Água Funda no prefácio escrito para a segunda edição da obra, publicada em 2003.

Instituto Ruth Guimarães

Foto: Botelho Neto – Década de 70

Essa prosa fiada, que dá ao leitor a sensação de estar escutando as personagens, é um dos aspectos mais aclamados do romance de Ruth Guimarães (1920-2014). Nascida e criada em Cachoeira Paulista, cidade localizada quase na divisa com Minas Gerais, Ruth traz a Água Funda um retrato do Brasil caipira sem cair em estereótipos ou idealizações. Usando seu lugar de fala como mulher negra e caipira, a autora se inspira na sua própria vida na roça.

Com linguagem marcada pela oralidade, o romance é repleto de descrições. “A gente vê o caipira, aquele que é ligado à terra, as descrições da natureza, a gente vê bem o sentimento dela [da Ruth] de amar esse lugar. E aí tu vai ver na biografia dela que ela não sai desse lugar, ela fica ali. Esse é o desejo dela: ver aquele céu, ver aqueles pássaros, ver aquela flora… E a gente chega até a sentir o cheiro do ar puro”, destaca a doutoranda em Letras pela UFRGS Ana dos Santos, que pesquisa literatura negra de autoria feminina.

A obra é escrita em um formato de conversa de um/a narrador/a com “um moço”. A doutoranda do departamento de Estudos Literários da USP Cecília Furquim defende que, na verdade, o/a narrador/a é uma mulher. Ela explica que, ao longo do romance há diversas pistas que mostram que esse/a narrador/a é alguém da comunidade e que, ao mesmo tempo que tem familiaridade com a linguagem caipira, também possui educação formal. “A gente poderia dizer que a narradora é um alterego da Ruth, porque ela tinha uma escolaridade, inclusive, excepcional para a época, para o fato de ser uma mulher negra”, aponta.

Ana concorda que o/a narrador/a é alguém pertencente à comunidade, mas tem dúvidas quanto ao gênero. “Pode ser uma narradora, mas o que me incomoda é que o posicionamento desse narrador é muito vago. Ele só diz ‘na escravidão era assim’. E eu não sei se a Ruth respeitaria tanto assim o poder, porque, para mim, ela era muito ousada para a época”, analisa. Afinal, Ruth era uma mulher negra, caipira e jovem – Água Funda foi publicado em 1946, quando ela tinha 26 anos.

Seja com narrador ou narradora, a composição do romance – fragmentada, uma espécie de “colcha de retalhos” – é a grande originalidade da obra. Cecília aponta que, como isso não era comum na época, esse aspecto não foi bem recebido pela crítica naquele momento. “A gente pode dizer que essa composição da obra – que na época do lançamento foi alvo de críticas – tem a ver com o fato de a Ruth ter juntado ‘causos’ que ela escutava, vivenciava”, diz.

Em um depoimento concedido ao Museu Afro Brasil em 2007, Ruth comentou que essa composição se inspirava no povo brasileiro.

“Assim como somos um povo mestiço, todo cheio de misturas de todo jeito, a nossa literatura também é toda feita de pedaços de textos, de arrumações aqui e ali”

Ruth Guimarães

A obra acontece em dois momentos temporais: a primeira parte do livro se passa cerca de 15 anos antes da abolição da escravatura, na fazenda Olhos D’Água; a segunda parte, entre os anos 1930 e 1940, na cidade de Pedra Branca. Apesar desse salto no tempo, o que se percebe no romance é que aspectos como a exploração do caipira e a desigualdade permanecem intocados, fazendo uma espécie de desvelamento da estrutura colonial que permaneceu no Brasil.

“Mudou a fase, mudou o século, mudou de Monarquia para República, mas na água funda do Brasil se manteve a estrutura colonial”

Ana dos Santos

Nesse sentido, em um dos trechos do livro é inevitável lembrar de notícias recentes sobre casos de trabalho análogo à escravidão na Serra e na Fronteira Oeste gaúchas. Em Água Funda, um forasteiro sem nome chega a Pedra Branca para recrutar homens para trabalhar na abertura de estradas no sertão, prometendo o pagamento de trinta mil réis (um valor alto) por dia.

“– E livre de despesas. Quer dizer, não é bem livre de despesas. É assim: todos os gastos correm por conta dos engenheiros. É uma companhia grande. Depois o empregado paga aos poucos. Quando a gente entra, assina um contrato…

– Assim é bom. Mas a Companhia tem de tudo?

– Tem. Armazém, loja e farmácia, além de alojamento para o pessoal.

– Tudo isso e os trinta por dia correndo…”

Um dos personagens, Mané Pão Doce, resolve aceitar a oferta. Volta, tempos depois, contando que precisou fugir do lugar, porque a situação era diferente do prometido: além de trabalhar pesado, sem descanso e ouvindo ofensas do patrão, os empregados eram pagos em vales, aceitos apenas no armazém da Companhia – que cobrava muito caro pelos produtos. Ao pedir as contas, o empregado descobre que deve ao patrão pela viagem, pela esteira em que dormia, pelo alojamento, pela lavagem de roupa, além das compras no armazém – e só pode ir embora quando saldar a dívida. “Contando com tudo, ia meu ordenado e eu ainda ficava devendo uns dois meses de serviço”, reflete a personagem.

O/a narrador/a de Água Funda credita os tristes destinos dos personagens a uma praga lançada pela escravizada Joana. Para Ana, a praga é uma metáfora para os 300 anos de escravidão. “Esse romance está fazendo uma crítica à escravidão e ao pós-abolição, que manteve as coisas como estão e, se elas estão dando errado, é porque não se resolveu isso lá atrás. É o fantasma da escravidão”, conclui a pesquisadora.

https://www.ufrgs.br/jornal/a-literatura-orgulhosamente-negra-e-caipira-de-ruth-guimaraes/

Um poema da jovem Ruth Guimarães

Aos 19 anos, a escritora publicou no famoso quinzenário Roteiro um poema sobre o caboclo

O quinzenário cultural Roteiro, que teve entre seus fundadores Antonio Candido, durou apenas nove edições, mas é considerado um clássico da literatura modernista. Na primeira edição, de 5 de maio de 1939, Ruth Guimarães publicou o seu primeiro texto em veículo de grande expressão. Foi um poema intitulado “Caboclo”. Está no canto superior esquerdo da página 9 da edição inaugural do quinzenário. O texto integral está divulgado a seguir.

CABOCLO

Olha em torno, caboclo, e vê que nada falta
para seres feliz.
No chão de terra socada
um pé de mato e uma esteira,
à sombra da gameleira do quintal.
A choupana onde a viola pendurada
sugere descantes líricos,
− porque tu és também sentimental
– só tem uma janela
como a casinha amarela do joão-de-barro.
É pequena para os ambiciosos da cidade.
Mas tu cabes tão bem dentro dela,
com tua felicidade!
Tu és tal qual um passarinho solto
que vive não sabe como, voa, não sabe por quê.
Mas canta porque está alegre;
porque cantar é uma necessidade da sua garganta;
que canta contra a vontade;
que canta mesmo não tendo nem mágoas para espantar.

Caboclo feliz!
Não tens problemas.
Nem mesmo o X de uns olhos claros de mulher.

Teu romance é simples como é simples tua vida:
queres uma cabocla bonita que te quer.
Que usa vestido de chita, uma flor nos cabelos,
e anda bamboleando os quadris,
com um não sei quê de feliz no sorriso feliz.

E tem um riso claro que aflui dentre os dentes brancos,
como dentro dos barrancos aflui a música das corredeiras.
E tem cheiro de planta pisada
esmagada,
planta boa que perfuma o pé que a maltratou.
E movimentos sinuosos de veio d’água coleante;
e suavidades de rola enamorada;
ingenuidades,
sutilezas,
maciezas de seda...
... e até gosto:
gosto de fruta verde, ité, ácida, azeda,
mas cheirosa e gostosa como quê.

Tu também sonhas, caboclo:
“... capim melado ondulando nos cerros...
Uma vaquinha mansa...
Uma esperança na fartura da colheita...”

Depois o rancho melhorado e a cabocla ao teu lado.
... e a vida inteira tão boa, tão linda, tão igual,
como a vida dos pássaros, das flores...
Dos rios que rolam...
De rolas que arrulham...

Mas no dia em que chega o desengano,
resignado, filósofo do mato,
tu deitas na esteira,
olhas longe e resmungas:
“Podia ser pior”.

Consola-te, caboclo, que esta vida é assim mesmo.
E a gente está sempre querendo
qualquer cousa melhor.

Roubaram-te o teu sonho que adoravas?
Carrega-te de flores
como os ipês dourados das campinas:
aceita a lição de ouro dessas flores pequeninas!
A vida não é má.
És o culpado se te desiludes
pois a sonhaste melhor do que ela é.

Olha o teu rancho de sapé,
a passarada no arvoredo,
cantando a eterna canção das frondes e dos ninhos.
Nada está diferente porque sofres.
É tudo a mesma cousa.
Foi apenas a tua alma que mudou.
Somente os ipês floridos se desfolham
como o teu sonho já se desfolhou.

WhatsApp Image 2023 05 29 at 15.54.37 Instituto Ruth Guimarães Um poema da jovem Ruth Guimarães

Obras de Ruth em escola do interior de Roraima

Crianças estudam obras de Ruth Guimarães para aprender sobre antirracismo

A professora Maria Augusta Simões Maduro, que vive em Ribeirão Preto, é madrinha de um projeto chamado “Literatura afro-indígena como instrumento de educação antirracista”.
Ela nos envia fotos de atividade realizada na escola Tia Ercília, na cidade de Cantá, interior do estado de Roraima. As crianças leram e trabalharam quatro livros de Ruth Guimarães: “Contos Negros”, “Contos Índios”, “Histórias de onça” e “Histórias de Jabuti”.
É a obra de Ruth Guimarães alcançando as crianças da fronteira com a Venezuela.

 

Instituto Ruth Guimarães representado na Manifest Culturarte

Você chega ao 3º andar de um prédio do governo, seja subindo as escadas ou pegando o elevador para chegar lá. Você conhece as pessoas lá e não diz para si mesmo: eles moram aqui, é fácil para eles, não precisavam subir escadas. Você supõe que eles também partiram do andar térreo para chegar a este mesmo andar. E, no entanto, quando você se depara com um artista que faz algo bonito, a primeira coisa que você diz para si mesmo é: ah sim, mas ele tem talento! Como se não precisasse trabalhar, como se não precisasse subir escadas para chegar ao 3º andar, a esse nível de especialização em sua arte. Isto simplesmente não é verdade! Salvo uma minoria, a maioria dos artistas tem que trabalhar, perseverar, desenvolver sua paixão para chegar onde está hoje. Mesmo que um artista chegue ao 3º andar mais rápido que você, ele ainda terá que trabalhar, assim como você, para subir os andares superiores.

A arte, o artesanato, os serviços manuais, a marcenaria são individuais, são feitos um a um. Para você! Ninguém terá o mesmo, da mesma forma, mesmo que tenham sido feitos na mesma forma.
Valorize os artistas e os artesãos de sua cidade, de sua região.
A Manifest Culturarte foi idealizado a partir de um projeto desenvolvido na Fatec Cruzeiro.
A intenção deste projeto é valorizar nossos artistas.
O evento será realizado no dia 29 de maio a partir das 19 horas na Etec Professor Marcos Uchoas dos Santos Penchel, Cachoeira Paulista.

WhatsApp Image 2023 05 17 at 17.09.29 Instituto Ruth Guimarães Instituto Ruth Guimarães representado na Manifest Culturarte

Água Funda é tema de dissertação de mestrado em Universidade de MG

Sérgio Portilho acaba de defender dissertação de mestrado, na Universidade de Viçosa, Minas Gerais, com o tema “Reflexões sobre o romance moderno Água Funda (1946), de Ruth Guimarães.

WhatsApp Image 2023 05 15 at 19.06.42 Instituto Ruth Guimarães Água Funda é tema de dissertação de mestrado em Universidade de MG

Sérgio Portilho acaba de defender dissertação de mestrado, na Universidade de Viçosa, Minas Gerais, com o tema “Reflexões sobre o romance moderno Água Funda (1946), de Ruth Guimarães.

O presente trabalho tem por objetivo a análise da obra Água Funda (1946), de Ruth Guimarães,
único romance publicado pela escritora, com o objetivo de analisar sua construção e o estudo de sua recepção. A escritora Ruth Guimarães foi uma das primeiras mulheres negras a ocupar espaço no campo da literatura brasileira. O romance Água Funda recebeu a atenção de importantes críticos quando de sua estreia. Na presente pesquisa, empreendemos um estudo cuidadoso sobre a recepção da obra, atualmente, dividida em três momentos, de acordo com as edições: da Editora Livraria do Globo, em 1946; da editora Nova Fronteira, em 2003, e da Editora
34, em 2018. O diálogo dessa recepção com a leitura crítica da obra possibilitou-nos perceber
o romance de Ruth Guimarães como um exemplar do moderno romance brasileiro, assim como
também evidenciou a necessidade de mais estudos acadêmicos em torno da produção dessa
escritora.

Alunos da Faculdade Canção Nova visitam Instituto Ruth Guimarães

Melody, Maryana e João Pedro, alunos do departamento de Rádio e TV da Faculdade Canção Nova vieram fazer um trabalho no Instituto Ruth Guimarães. Conheceram um pouco de Ruth em algumas aulas e se apaixonaram! Baseados em suas pesquisas, trouxeram um questionário, tiraram muitas fotos, gravaram vídeos, erraram, recomeçaram, aprendendo na prática. Encantadora, foi o adjetivo que Melody usou para qualificar Ruth Guimarães. É o que o Instituto procura fazer: encantar. A sua escola já veio ao instituto? Ainda não? É só agendar!

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Alunos da Faculdade Canção Nova visitando o Instituto Ruth Guimarães

Francisco Sodero – Historiador

Francisco Sodero Toledo é graduado em História pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1967), graduação em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1972), graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia de Cruzeiro (1976), e, mestrado em Mestrado em Educação pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (1998). Membro fundador do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV) e da Academia de Letras de Lorena e conselheiro do Instituto Ruth Guimarães
Amante da história e da cultura, tornou-se um dos principais expoentes de uma geração que faz questão de conhecer, preservar, divulgar e, principalmente, elaborar um saber que expressasse uma identidade regional para o Vale do Paraíba. Sempre lutou pela valorização e preservação dos patrimônios materiais e imateriais do Vale do Paraíba, militou no campo político em prol da redemocratização do país, lançou campanhas que buscaram garantir ao Vale do Paraíba um merecido lugar de destaque na história nacional. Fonte: http://diegoamaro.com/entrevista/em-breve-francisco-sodero-historiador/

WhatsApp Image 2023 05 05 at 17.15.23 Instituto Ruth Guimarães Francisco Sodero - Historiador